homem grande
olho no lá
a cadeira de madeira
quatro pés abaixo dele
encosto pra costa
osso e madeira
osso - pele camisa - madeira
olhos pesados
curvas e dobras e rachaduras
cara cor de cinza
na cadeira de madeira
árvore cansada de tocar o céu
árvore feito cadeira
jaz árvore agora cadeira
árvore quieta
ele lá
a companheira vem
xícara nas mãos
duas delas com tremor
café preto na boca seca dele
tabaco e fogo
longa tragada-pensamento
o que foi
poderia ter sido
o agora?
não lá
sentado na cadeira
não existe
lá
o paraíso
maçaneta girando
a neta antes fora
agora dentro
o coração dentro do velho
o velho dentro da cadeira
a árvore morta sente a vida dele
conversa em tom alto
riso canto
chocolate ele ganha
cadeira abriga agora homem doce
já foi tempo
ela foi
o velho aqui
na cadeira
riso falecido
no trancar da porta
contínua meditação
"sair daqui"
a que entregou o café vindo
vindo a companheira
calada ela senta
ao lado
três silêncios agora
o velho
a velha
a cadeira
já foi tempo
outra vez
calada velha vai
de novo ele
e a cadeira
acorrentado a ela
o Tempo era
abutre
do teu fígado
horror regenerando suplício sem trégua
e o cão?
já doente
quase morrendo de tempo doente
na caixa de papelão - cadeira dele -
pulgabernesarna
o cão fedia
toalha cor de cinza
(Tempo porco!)
forro da caixa casa - cadeira dele
(fino trapo)
tamanho era o frio
respiração curta do velho cão
olhinhos fechados
tudo escuro
cumprindo sentença
pote d'água só barro
(uma lágrima que fosse!)
pote de comida
alimento de formiga
falalate muito pouco
imovel na caixacadeira
sentadodeitado ele espera:
netadona
cohocolateafago
tempotempo
ir embora
pra onde?
algum lugar livre de cadeiras, caixas e velhices
algum lugar com água (ainda que lágrimas), comida (ainda que bombons)
algum lugar de conversas e latidos
mas
não
não existe
lá
Nenhum comentário:
Postar um comentário