É nóis, maluco

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domingo, 11 de fevereiro de 2007

Pomponeta. Por MCD

Convocado por uns e inquirido por outros vou seguindo. Marquei um encontro com Hamlet e enquanto espero sua chegada vou indo com Shakespeare, meu professor. Nessa jornada tento decifrar um enigma mítico em que o herói procura romper limites. Questão de ser ou não ser. Não ser e ser, outra questão. Muitas formas, muitos jogos cênicos. Uma infinidade de atores. No Globe Theater todo mundo representa.

Lembrei de uma brincadeira com amigos de infância. Pomponeta peta, peta. Ou seria pomponeta neta, neta? É uma discussão. Aprendi assim: pomponeta peta, peta, peta pe ruge. E seguia: pomponeta peta, peta, peta pe trim.

Nos encontramos na rua. Feita a roda, punhos fechados, bate na boca e começa. Quando a cantoria parar um punho cai fora. Gostaria de fazer esse jogo com os problemas das artes locais. E não são poucos. Haja pomponeta.

Anote ai. O teatro municipal foi restaurado há pouco mais de uma década. O prédio apresenta goteiras. O que regra sua utilidade também precisa de reformas. O legislativo deveria fazer a sua parte e fomentar leis que visem preservar o patrimônio cultural, arquitetônico, a memória que alimenta o futuro.

O múltiplo das artes vaza e por pouco corre o risco de novamente ser esquecido. A população não vai ao teatro. O teatro não faz parte da população. Bate na boca. Começar de novo. Pomponeta, peta, peta. A cortina da Lina está com problema. O camarim é um ideal. E as goteiras. Trim.

A síndrome de Hamlet toma conta de mim. Perguntas, perguntas, perguntas. A esfinge canta o seu enigma: de quem é a responsabilidade?

O comprometimento é de todos. Goteiras que se tornam crateras. Chuva que se transforma em deslizamentos. Trim. Esconde a mão e sai do jogo. Bate na boca. Pomponeta peta, peta, peta pe...

O belo no Shakespeare é que ele sempre tem uma frase. Eternidade é quando Hamlet a declama: ‘Ajustai o gesto à palavra, a palavra à ação: com esta observância especial, que não sobrepujeis a moderação natural. Espelho fosse. Mostrar à virtude seus próprios traços, ao ridículo sua própria imagem, e à própria idade e ao corpo dos tempos sua forma e aparência.’

MCD!

P.S.: O texto entre aspas é parte do livro ‘Hamlet Poema Ilimitado’ de Harold Bloom. Editora Objetiva. Página 224. Tradução Anna Amélia de Queiroz Carneiro de Mendonça. Ano 2004.

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