Perfume no pescoço e gravata.
Ele, que nunca tinha usado uma gravata.
Banco de praça
Fim de tarde.
12 °.
Imóvel, contrastava com o balanço das árvores.
Só quem olhasse por trás de seus óculos escuros conseguiria enxergar um golpe de vida.
Músculos tensos naquele corpo já decidido.
Encontro inevitável.
Pensou nas pessoas que amava
no quanto era amado
nas brincadeiras de crianças
nas descobertas...
nada o convencia.
por 1hora e 38 minutos...
eis que a estátua se desfez.
andar digno que a vida inteira não tivera
verde para os carros
atravessou a estreita avenida ao som das buzinas
com o sapato novo tocou a areia.
notou que estava pesado
irrelutável à novas possibilidades
no frio da alma
na desistência de ser
na certeza de ir
caminhou pela terra deserta
fria
sem castelos
inexistentes possibilidades de construção
ouviu como nunca o barulho da água
agitada que estava
solene
tocou a água
gelada
pés pesados afundando na areia
água até a cintura
choque térmico
respiração curta
ora ou outra sem respiração
surpreendente entrega
ele que nunca se entregara pra nada
ombros caídos
braços imóveis
a água cobrindo seu corpo
peito
pescoço
boca
nariz
testa
abriu a porta escura.
Nenhum comentário:
Postar um comentário