É nóis, maluco

Olha, eu não sei como você caiu aqui. Mas já que tá, não custa um comentário p'ra deixa pegada forte na opinião do baguio. Suave!

quinta-feira, 8 de janeiro de 2009

Quando o tempo chegar o mundo e o universo estarão também prontos para o meu descanso.




















Carlota Edith Barbieri, a Maria dos Pacotes terminou de cumprir sua
Jornada no dia 6/01/09. Dia de Reis. Seus olhos azuis, sua fragilidade, seus pacotes com sonhos enlaçados com esperança deram lugar para sua história.

Abaixo, trecho do monólogo MARIA E OS PACOTES, de Marcos César Duarte. Dirigido por Mário Rebouças e trilha sonora de Dantas Rampin.

A foto é minha e foi tirada de um celular vagabundo. Nos encontramos em Novembro de 2006.


Não. Não tem problema nenhum. Vamos morrer e assim tudo
vai estar
resolvido. Morro, e tudo está resolvido. Mas eu vou com esses
pacotes.

Vou morrer com meus pacotes amarrados em mim. Até morrer serei
Lembrança, e a minha melhor amiga será a saudade. Meus pacotes.

A morte vem vindo me devorar. Um sonho tão jovem. As marcas do
amor. As rugas andam por perto.
As rugas estão vindo. Elas andam por
perto.
O tempo ainda vai me comer.
Vai devorar esse corpo. Mas minha
memória precisa permanecer.
Vou dar a minha cara para o tempo que vem vindo
bater. Vou de frente. Meus pacotes por perto e o mal do esquecimento não vai me
pegar.

3 comentários:

Decifra-me... disse...

Zé, que triste...
Mas, ao mesmo tempo, que homenagem linda. Você está preservando a imagem dessa mulher de Jundiaí para que ela não caia no esquecimento.
Que ela seja recebida pelos anjos e que dentro de cada pacote que ela levou consigo saiam só coisas boas.
Um beijo, querido!

Anônimo disse...

Elogio à loucura. Viver nos corredores urbanos. Aleatório. A insanidade é decorrente de muitas razões. Pode ser perda insuportável, motivos alheios e até engano de amor.

Em nosso primeiro encontro relembra a memória que fiquei ansioso. A criatura acompanhou todos os meus movimentos com o par de olhos azuis. E assim, emoldurados no cinza de seu vestido e no marrom escuro dos pacotes que se penduravam por seu corpo que os olhos azuis ganham força e se ampliam em meio a gritos e ameaças.

O medo aflora e minha reação é desviar-me de tamanha loucura.

Anos depois nos encontramos novamente. Agora totalmente idealizada. Ela é lenda. Eu, observador. Os pacotes que carregava tornam-se esperanças embrulhadas que foram protegidas para saudar um tempo que nunca virá. Um tempo que é só presente. Presente de casamento, as alianças, a comida, as notícias de jornal, uma cápsula do tempo, o que foi possível poupar de sanidade.

A espera nas ruas. Uma criatura das calçadas. Beiradas e meio fio. Luz de poste. Noticia virando cobertor. Rugas que se tornam travesseiros. Outra esquina. Vários gritos. Não pode dispensar sua espera. Perder o sossego.

Assim a lenda falou comigo.

mcd!

Will disse...

Se cada pessoas com boa indole carregasse seus pacotes de sonho e jamais os deixasse com certeZa o mundo poderia ser mudado.