Vertigem

Vou confessar:

Tem dias que tenho ódio do ser-humano.

17:30. Estação Luz.

As pessoas "aculumadas" à espera do trem e a única esperança é que estejam próximos à porta quando o vagão parar. A ignorância se apresenta: querem entrar antes dos que precisam sair. Empurra-empurra. Velho, mulher grávida, criança de colo transformadas em gado. Olhar baixo. Corpo cansado sem banco para o descanso.

Vida de gado.

Próxima estação, BARRA FUNDA.

***

O natal vem vindo. Bom velhinho, sacola, gente suada na 25 de Março. Gados marcados pelo consumo, pelo alívio de Dezembro. Felicidade comprada pelo décimo terceiro de um salário miserável.

Quem nasceu?

Foi o Cristo. Aquele que botaram numa cruz e formatou toda a vida do ocidente. Aquela histórinha do nascimento por uma virgem e que nos encanta até hoje.

É, o menino nasceu, falou de amor, desafiou poderosos, jogou a moeda e esclareu "à César o que é de César", foi traído, cuspido e crucificado. E somos nós que ganhamos presentes.

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Eu devo ter algum problema com sonhos. Nunca me lembro deles. Preciso botar ordem no meu inconsciente e lembrar dos meus sonhos. Nem que seja pesadelo.

Preciso ter esfinges para decifrar. Adorava, quando adolescente, pegar encarte dos cd's e discos e tentar decifrar o que o rockstar quis dizer com aquelas músicas que aparentavam não dizer nada com nada.

"Vamos deixar as janelas abertas

deixar o equilíbrio ir embora

cair como um saxofone na calçada

amarrar um fio de cobre no pescoço"

e ficava pensando sobre o que estava dizendo aquilo, pois se foi gravada tem que ter um significado.

Essa da Legião, eu não entendo até hoje.

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Eu acho que o que odeio nas pessoas é a passividade. O tratamento de gado e nenhuma iniciativa para a dignificação. Não, não estou livre desse martírio. Mas a falta dessa consciência me irrita.

Eu acho que os odeio porque os amo. Porque penso que tudo poderia ser mais bonito e onírico. Os sonhos, os trens, o mito do salvador poderia servir para dar uma estrutura moral diferenciada da miséria.

)))

O ódio também vem da miséria. E a passividade leva a miséria. E a miséria leva a miséria.

E a miséria é suja. Casa de barro, madeira, criança pelada no chão de terra batida, sem gás para comida, sem comida, desespero no tempo que se fecha anunciando o temporal. Oração à um Deus que faz aniversário no Natal.

Aquelas compras na 25 de Março, o trem lotado, a vida sem sonho, a miséria.

Vertigem. Dor de estômago. Tontura: o quase-desmaio e a perspectiva de que tudo vai piorar.

Vou passar o ano-novo em Hawaí, com colar de flores brancas e coco verde!!!!!!!!!!!