É nóis, maluco

Olha, eu não sei como você caiu aqui. Mas já que tá, não custa um comentário p'ra deixa pegada forte na opinião do baguio. Suave!

quarta-feira, 26 de abril de 2006

CONVERSAS COM O ZÉ! QUE PARA OS OUTROS É RENATO FORNER


Zé Renato vou te dizer uma coisa: gosto de você. Você é quase uma geração depois, eu acompanho o seu trabalho e você o meu. Isso quando tenho algum trabalho.

Minha mãe, Zé, fazia tricô. Eu aprendi. Já menino eu sabia como era. Duas agulhas, linhas, várias cores e várias espessuras. Minha mãe tinha um jeito de fazer tricô que era dela. Um tecido de seda envolto no pescoço. Minha mãe tecia assim, sentada, casacos, sapatinhos, gorros, cachecol. Fiz uma blusa e um cachecol. Sempre gostei de cachecol.

Tenho alguns. Bonitos. O que eu fiz eu já não tenho mais. Sou assim, distribuo o que acho que me pertence. Fiz uma blusa também. E que também já não existe. Não está mais comigo. Verde cor de bandeira um pouco mais escuro.

Tinham duas tranças. Uma de cada lado da blusa. Você precisa saber matemática para saber fazer um tricô. É sempre um ponto e uma laçada, ou um ponto e três laçadas. Formei a trança e costurei a blusa. Eu fiz tricô na frente dos amigos. Uma roda de amigos e eu tricotando. Literalmente.

Eu lembrei disso no meio do espetáculo de dança que fomos assistir uma noite dessas. O palco é perfeito. Isso que me encanta nele: sua perfeição. Quando dá de ser bonito, não há barulho que nos tire a concentração.

O palco não é minha casa. Mas eu gosto da idéia do palco.

Minha mãe hoje é uma senhora que podemos classificar como idosa. Além da idade há um fantasma operando: ela possui o mal de Parkinson. Não faz mais tricô.

O palco é tolerante. Tolera de tudo. Há público para tudo. Sempre houve. Por isso eu penso que segundo a teoria da reencarnação e vidas passadas, eu, em algum momento dessa eternidade, já tive outro contato com esse tipo de arte.

É lindo pensar o que Ariadne teria tecido!

A cada dia eu entendo melhor a fé. A fé que torna o palco um lugar sagrado. Justo com os justos, medidas exatas do entendimento. É preciso entender o palco. As suas marcas e linhas. A atitude diante dele. O palco não é um, é múltiplo.

Fiz muitos amigos no palco. E continuo fazendo. O palco também serve para isso. Só parei mesmo foi com o tricô.

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